sexta-feira, 26 de março de 2010

NÃO ENTRE TÃO DEPRESSA NESSA NOITE ESCURA...


Não entre tão depressa nessa noite escura;
A velhice queima e estressa ao fim do dia:
Ira, ira de encontro ao fenecer da alvura.

Entanto sábios ao final sancionem a tarde madura
Porque suas palavras não lavraram luz, eles
Não entram tão depressa nessa noite escura.

Boa gente, ao último aceno, clama o quanto dura
A chama de seus feitos vãos valsando na angra verde,
Ira, ira de encontro ao fenecer da alvura.

Rufiões que colhem e cantam o sol que perfura,
E aprendem, demais tarde, que o molestam em sua senda,
Não entram tão depressa nessa noite escura.

Homens graves, à morte, que vêem às escuras
Olhos cegos a chamejar meteoros e ser felizes,
Ira, ira de encontro ao fenecer da alvura.

E tu, meu pai, lá nas tristes alturas,
Maldiz-me, bendiz-me com teu duro pranto, peço.
Não entre tão depressa nessa noite escura.
Ira, ira de encontro ao fenecer da alvura.


Tradução: Ruy Vasconcelos

* Dylan Thomas (1914-1953), poeta inglês, nasceu no País de Gales. Aos 16 anos, abandonou os estudos. Quatro anos depois, publicou o seu primeiro livro de poesia, Eighteen Poems (1934), de feição romântica, que foi um sucesso de crítica. Aos 35 anos, visitou os Estados Unidos, onde foi idolatrado pelos autores da beat generation. Quatro anos depois, morreu em Nova York, devido ao alcoolismo. No Brasil, foi publicado o livro Poemas reunidos de Dylan Thomas, com traduções de Ivan Junqueira.

(FONTE: ZUNÁI - Revista de poesia & debates)