sábado, 3 de outubro de 2009

Uma Preze-Rosa Revelação

                  Aqui nesse Deserto Verde, sob o episódio da linguagem que me liga por alguns instantes à sensação de verdade, nasce esta escrita com a necessidade de revelar a Você que intentou descobrir a genuína beleza existente no Ser Humano: uma face oculta de mim mesma; o argumento não é indutivo, mas convidativo, pois a trajetória desta escrita, e desta possível leitura lhe fará percorrer caminhos longínquos rumo a pátria desconhecidas, talvez Selvagens, talvez Virgens – nossos Sonhos Primitivos ou nossas Utopias Primordiais. Entenda-me! aqui as contradições (como em todo lugar do Mundo) serão necessárias para a possível construção de uma Prazerosa Revelação...

                'Por angústia ou por felicidade, sinto às vezes vontade de sucumbir-me... Manhã (08.11.1997) cinzenta e amena. Sofro! (desconheço o motivo). Surge uma idéia de suicídio, desprovida de ressentimento (sem chantagem com ninguém); é uma idéia neutra; não rompe nada (não quebra nada): combina com a cor (com o silêncio, o abandono) dessa manhã'... Um outro dia (indo para uma aldeia Arara), em baixo de chuva, esperando um barco à margem do rio Juruá; a mesma enxurrada de aniquilamento me atinge, desta vez por felicidade. Assim, às vezes, a infelicidade ou a alegria desabam sobre mim, sem nenhum tumulto posterior: nenhum outro sofrimento anterior: estou dissolvida, e não em pedaços; caio, escorro, derreto-me.. “Este pensamento levemente tocado, experimentado, tateado (como se tateia a água com o pé) pode voltar. Ele nada tem de solene.” É exatamente uma doce leveza: a doçura da descoberta do prazer que na minha consciência sempre foi uma fratura exposta de dor, frente a indagações cifradas no exercício continuo da minha existência de Ser; uma trilha fadada de mistérios e plena de inquietações!...
                    O sentido da descoberta Contigo, inicialmente, atingiu o centro nervoso das minhas sensações, contempladas em mim ou projetadas no Outro. Ainda assim, colocou-me em contato com identidades primevas, fazendo-nos cúmplices de cenas legendárias, e personagens cíclicas de uma atualidade cada vez mais emergente, cada vez mais imediata; um Tempo sedento de respostas: ou a busca volátil do pleno equilíbrio.
                  Tentar descobrir o sentido enigmático do sexo para mim sempre foi uma tarefa desafiadora... Portanto! Desafiei-te ... tirando fio a fio como bandeirante desvirginando fronteiras, descobrindo novas pátrias, fincando flâmulas de conhecimento mútuo, num pacto ardente de cumplicidade: ser Sujeito e Objeto nesta viagem em direção ao centro de Ti, não foi outra coisa, senão a própria reflexão, o estágio fundamental da volta precisa e  única; fui colocada num ponto imaginário e deixei que feixes infinitos de luz cruzassem sobre nós por todos os lados, atravessando-nos numa conjugação impar foi, indubitavelmente, um exercício de uma atração cabal, irreversível e individual, pois o espetáculo ardiloso da fundição de nossos corpos abriu as portas dos mistérios que não mais se encerraram em sentido algum. Agora, envolta numa grande roda viva, o círculo nos tornou iguais, equivalentes: Um, pela vivência; o Outro (Tu), pela compreensão...
                     O texto, essa ponte alva e segura entre nós, se move numa perspectiva não lógica, mas que tenta traduzir o fenômeno da fusão do nosso contato – aquela convivência pacífica entre a liberdade e o desejo num mesmo espaço, sem normas, sem controle: sem escuridão... uma liberdade preferentemente iluminada de prazer. Porque a partir do movimento de nossos corpos em que as imagens, ainda que sígnicas, pautaram-se diante dos meus referenciais, desde os mais rudimentares aos mais civilizados: meus preconceitos e preceitos, meus tabus e nossas superações.
                    Assim, desejei torna-te cúmplice: mas no baile grego dispenso as Personas. Quis Teu rosto em ascensão e as máscaras em queda franca, livre e definitiva. Desse modo, movimentei-me por todos os lados, em todas as direções. Contemplei a aparente eternidade de um Sol boreal, e recebi humildemente os ventos gélidos dos meridianos (da Tua fala). Tu, interlocutor, és o convidado, és a testemunha ocular de todas as sensações que habitam a pátria do meu Desejo – Terra Selvagem que um dia tive que descobrir, sozinha na dor, trilhando meus caminhos, desbandeirando dogmas, axiomas, complexos e verdades absolutas.
                   Somos ou não a face dupla do espelho? Embalada nesta dúvida, libertei miríades de desejos abençoados num ato pérfido do sagrado... Finalmente, meu Caro Leitor, ser um Ser Humano não é uma escolha, uma opção ou um estado de dúvida. É simplesmente SER... ser na singeleza do olhar, do sentir, do chorar, do sorrir, do falar, do silenciar, do nascer e do morrer: é ser... E o Ser nasce na dor e padece na dor. A dor que me fez crescer, conhecer e, felizmente: Ser Mulher. Com esta escrita eu tenho a pretensão de unir dois mundos, porque este texto é o único, nesse momento, que pontifica-nos no espaço da compreensão verbal e essencial.
                 Enfim, esse texto está desprovido de máscaras, esta Nu e verdadeiro, pois revela a trajetória de um Sujeito que tornou-se Objeto, sob gotas de chuva em espetáculos de prisma, na magia do teu olhar... “Eu gostaria muito de traduzir com essa Revelação o fenômeno da fusão de nossos corpos” – a convivência pacifica entre o Sol e a Lua num mesmo céu, sem ciúmes, sem escuridão – uma aurora iluminada sob o calor do teu corpo. No mais, foi a partir do nosso movimento de corpos que eu libertei os magos e fiz das fadas e bruxas monturos de areia. Agora, sinta o sabor sensual desta CON-FUSÃO e participe definitivamente, como Agente descobridor dessa Estória que não pertence somente a mim, mas já está na humanidade desde que os deuses habitaram o plural da História Antiga, antes de Mim e Ti, antes de nossa Ciranda ter se formado no Parágrafo Inicial desta e daquela Revelação...

Fonte inspiradora: Fragmentos de um Discurso Amoroso de Roland Barthes...